sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Objetivo

        O objetivo deste blog é atender ao projeto experimental da disciplina de História da Ásia, ministrada pelo Prof. Flávio Heinz da FFCH na PUCRS.

República Democrática de Timor-Leste

Fonte: http://timor-leste.gov.tl/



        Fonte: http://timor-leste.gov.tl/



Fonte: http://www.cplp.org/id-22.aspx (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa)


       Situado no sudeste da Ásia, o Timor- Leste é um país pequeno (18.899km²) e cerca de 1.065 mil habitantes, conforme dados do FMI (disponíveis em http://www.un.org/es/documents/).
       A República Democrática de Timor-Leste tem como regime de governo, a república parlamentarista. O chefe de Estado é o presidente sr. José Ramos-Horta, o chefe de Governo é o primeiro ministro sr. Kay Rala Xanana Gusmão e chanceler, sr. Zacarias Albano da Costa eleitos por voto direto em maio e junho de 2007.






                                          
fonte: www.wikipédia.pt
Presidente José Ramos-Horta
fonte: www2.planalto.gov.br
Primeiro Ministro Xanana em visita ao Brasil em 2011








fonte:www.unmultimedia.org/radio/portuguese/detail/170419.html
Chanceler Zacarias Albano da Costa 

O Timor foi dominado por Portugal em 1512. No século XVII, a Holanda disputou o controle da ilha com os portugueses que passaram a dominar a parte ocidental da ilha (oeste). Somente em 1914 a linha fronteiriça foi fixada de forma definitiva: Portugal ocupou a metade leste e mais um enclave (no interior da metade holandesa, denominando-o Ocussi ou Ambeno). Este enclave foi a primeira sede administrativa do Timor português, além disso, coube a Portugal na partilha, as ilhas de Pulau Ataúro (ao longo da costa norte) e Pulau Jacó, na ponta leste.

      O Timor é visto como uma área de transição entre a Ásia e a Oceania, devido a sua localização, a ilha é uma das últimas que formam a Insulíndia (região formada por arquipélagos de variada extensão em arco entre a Malásia e a Austrália), estando bem próxima da Austrália e do contexto oceânico. A própria denominação “Timor” (“Oriente”, em malaio) indica esta condição especial.


       Os quinhentos anos de domínio português deixaram marcas indestrutíveis na identidade nacional do Timor. Dentre as contribuições culturais, destaca-se em especial, a religião. A evangelização teve início com a chegada dos primeiros missionários no fim do século XVII mas efetivou-se apenas em 1875. Cem anos depois, em 1975, 32% da população era formada por católicos. A maioria, 58% mantinha-se fiel aos cultos animistas tradicionais. Além destes, registravam-se protestantes e muçulmanos. Em 1984, estes dados eram muito diferentes: para 578 mil habitantes, 428 mil eram católicos, inclusive 30 mil preparavam-se para receber a primeira eucaristia  - os demais (cerca de 10 mil) eram animistas, muçulmanos e protestantes. Os dados mostram que a grande maioria da população timorense voltou-se para o catolicismo como forma de preservação de sua identidade, recusando claramente os valores do novo colonizador – os indonésios. O governo da Indonésia, com o apoio do Banco Mundial, encaminhou a partir de 1984, uma colonização em larga escala no Timor com povos de outras regiões da Indonésia. Este programa de transmigração foi responsável, até 1995, pela introdução de mais de 100 mil imigrantes muçulmanos vindos da ilha de Java. A intenção verdadeira e não declarada era diluir a população local, alterando o quadro étnico do Timor-Leste.  Apenas 20% das aldeias originais continuam existindo. Este realojamento afetou profundamente a composição social, pois quebrou laços de consanguinidade e as ligações com os espaços tradicionais de vida. Muitos grupos étnicos quase foram extintos fisicamente.
       Em Timor, diferentemente da maioria das colônias, as marcas culturais do colonizador favoreceram, em parte os colonizados: além do catolicismo, a língua portuguesa, anteriormente proibida pelos invasores teve seu papel realçado nas lutas de resistência, constituindo a “língua oficial” do Timor-Leste. O português atuou como um dos mais importantes suportes da identidade nacional timorense, deferenciando-a dos milhões de falantes do bahasa (língua pertencente ao tronco malaio-polinésio, que tem sido adaptada e padronizada com base nos modelos malai e o holandês) na Indonésia/Malásia e do inglês em muitos países próximos.
       Conforme o atual presidente, José Ramos-Horta, ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 1996:
“Defendemos a reintrodução do português como língua oficial porque ainda há milhares de timorenses que falam o português e porque o Timor-Leste simplesmente não poderia sobreviver  como uma identidade específica sem o português. É o português que garante a identidade de Timor-Leste, é o português que nos diferencia da região, é o português que nos permite comunicação, ligação e solidariedade com um espaço maior, que é o espaço lusófono.” (publicado no Jornal Folha de São Paulo em  21/10/1996).
       Apesar da ocupação indonésia ser favorecida “por um processo de descolonização” mal encaminhado pela antiga Metrópole e o Vaticano ter adotado uma postura ambígua quanto à questão do Timor-Leste (caso da polêmica visita papal ao território em outubro de 1989) **, tanto o catolicismo quanto a língua portuguesa são um patrimônio da identidade nacional timorense, incentivado pela invasão indonesiana. Foi neste contexto que Kay Rala Xanana Gusmão, líder da resistência timorense entre 1978 e 1992 e atual primeiro-ministro do país, assinalou “...os efeitos positivos que se produziram entre os timorenses da tão prolongada presença portuguesa no país:
·  a cristianização que não só alterou radicalmente os fundamentos da sociedade indígena também conseguiu embrenhar-se na espiritualidade e pensamento timorense;
·  houve uma profunda miscigenação cultural, produto das relações complexas estabelecidas entre dominador dominado;
·  a adoção de uma língua estrangeira (o português) como fator para uma interpretação da realidade.”
       Desta forma, o timorense em meio a um conjunto de elementos milenarmente sedimentados, criou um perfil histórico e cultural específico, no qual estão diversos traços, entre eles a fé católica e a língua portuguesa (este é um traço de associação e interlocução com os países de língua portuguesa – Portugal, Cabo Verde, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e o Brasil). Um Timor-Leste independente, juntamente com todas estas nações, seria parceiro na projetada Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).


** os documentos referentes à visita do papa João Paulo II estão disponíveis em  http://amrtimor.org/docs/index.php e http://amrtimor.org/docs/visualizador.php?nome_da_pasta=06429.004&bd=IMPRENSA

Domínio português (1512-1975)

       Os primeiros contatos conhecidos com europeus datam, provavelmente de 1512 a 1520, quando embarcações portuguesas chegaram à ilha. A evangelização figura como o primeiro "marco civilizatório" da colonização. Sob proteção da Coroa portuguesa, frades dominicanos estabeleceram a primeira colônia européia permanente no Timor. No século XVII, os holandeses penetraram nas ilhas da região e expulsaram os portugueses das Ilhas Molucas - produtoras de pimenta, noz-moscada e cravo. Já suplantada por concorrente mais poderoso, apenas algumas ilhas do arquipélago de Sonda, como Flores, Solor e Timor, se mantiveram sob domínio português. Em 1651, os holandeses iniciaram a tomada de Timor organizando um desembarque  em Kupang - parte ocidental da ilha - estendendo gradativamente sua influência pela porção oeste ao longo do século seguinte. Em 1769, procurando garantir-se de um ataque  holandês, os portugueses transferiram a sede administrativa de Ocussi para Dili. Até o final do século XIX a autoridade portuguesa nunca foi forte porque o poder local português era exercido pelos "portugueses negros", mestiços que durante mais de 300 anos desempenharam importante papel na administração e nas relações com o exterior. O imenso interior da ilha continuou durante muito tempo nas mãos dos chefes tribais conhecidos como liurais - "senhores do chão", na língua tétum. 
       Procurando consolidar seu domínio, em 1896, Timor (que era administrado a partir de Macau - possessão portuguesa na costa sul da China) passou a ser colônia distinta, com uma administração própria instalada na ilha, assim permanecendo até 1975 quando, em razão da Revolução dos Cravos em Portugal, foi colocado um ponto final na "saga colonial" portuguesa. Essa iniciativa de consolidação do domínio português não passou despercebida pela população local. Longe de manter-se impassível, o povo maubere resistiu como pôde ao colonialismo através de diversas insurreições. Estas rebeliões acabaram por conduzir "campanhas de pacificação", ações militares que se prolongaram por quase 20 anos (1884/1912). Além da repressão colonial, o Timor-Leste também foi duramente atingido pela Segunda Guerra Mundial (1939-1945), ainda que Portugal tenha adotado posição de neutralidade durante o conflito, forças japonesas e aliadas (holandesas e australianas) transformaram seu território em cenário de violentas batalhas. No decorrer da guerra, centenas de soldados australianos conduziram guerrilhas matando cerca de 1500 japoneses e prendendo os restantes. O êxito dessa operação foi atingido com a ajuda dos timorenses, que pagaram caro pelo apoio prestado aos aliados ocidentais: aldeias foram dizimadas pelos japoneses, além de saques e pilhagens; cerca de 40 mil mauberes  perderam a vida em operações de represália e outros 20 mil, devido à fome e doenças. No pós-guerra a reconstrução do Timor português processou-se lentamente: em 1951, a ilha passou a ser, a exemplo das demais colônias portuguesas na Ásia e na África, uma suposta província ultramarina de Portugal. Nessa condição era considerada pelo salazarismo como parte integrante do Estado português e como as demais, duramente reprimida e economicamente estagnada. Este governo manteve, mesmo no pós-guerra, a estrutura de poder tradicional usada anteriormente constituídas pelos liurais. Estes, embora eventualmente em desacordo ou até mesmo em choque com o poder colonial, contribuíram para a implantação e perpetuação da dominação portuguesa. Somente na década de 1960, os nacionalistas timorenses superaram o isolamento causado pela distância e repressão, conhecendo as lutas dos movimentos de libertação das colônias portuguesas na África. Estudantes timorenses travaram, em Lisboa, contatos com o Partido Africano para a Independência da Guiné e das Ilhas de Cabo Verde (PAIGC), com o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e com a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), assimilando assim, as experiências destas organizações, procurando adaptá-las a sua realidade. Foi assim, como desdobramento destes contatos, que surgiu a Associação de Timor (ASDT), fundada em maio de 1975, mais tarde rebatizada como Frente Revolucionária do Timor Leste Independente (FRETILIN), a organização que nasceu de um grupo clandestino preocupado em organizar um movimento de libertação anti-português. Seu manifesto original repudiava veementemente o colonialismo e o neocolonialismo. A FRETILIN agrupava a pequena camada  intelectualizada do território, professores, estudantes, funcionários e camadas empobrecidas do meio urbano; foi o único partido a pautar a questão da independência desde sua fundação, conferindo-lhe sólida inserção no meio popular.
       Contrariamente a seus críticos no exterior e no país, o programa da FRETILIN era mais reformista que revolucionário. Sua plataforma previa, por exemplo, reforma agrária (com implantação de cooperativas agrícolas somente  em terras férteis que não estivessem cultivadas); preservação da rede de escolas católicas e da comunidade chinesa coexistindo com uma rede pública e classes especiais de alfabetização; política externa ratificando o não-alinhamento, relações de boa vizinhança e não ingerência nos assuntos internos de países da região. O desenrolar da luta, porém, favoreceu uma visível hegemonia de um setor radical, muito influenciado pelo socialismo de linha chinesa, embora originalmente, tivesse surgido como uma frente nacionalista abrangente, não ideológica, terminou assumindo posições cada vez mais doutrinárias.   Uma corrente de opinião bastante influenciada pela experiência chinesa, liderada por Abílio Araújo, consumou a radicalização ideológica da FRETILIN, transformando-a em partido marxista-leninista em 1977. Assim permaneceu a FRETILIN até a década de 1980, quando retomou suas concepções originais.
       Ao lado da FRETILIN, a União Democrática Timorense (UDT) e a Associação Popular Democrática de Timor (APODETI) eram as outras duas forças políticas mais atuantes no território. Elas também foram organizadas a partir da queda do regime salazarista em Portugal. A UDT era o único partido além da FRETILIN a possuir alguma influência  no Timor-Leste, sendo favorável à manutenção da presença portuguesa. Dentre os participantes da UDT figuravam funcionários da administração colonial, empresários da comunidade chinesa, latifundiários cafeeiros, diversos liurais e a comunidade portuguesa local. Por isso, recebeu encorajamento oficial português nos últimos anos do regime colonial, subvenções e espaço reservado nas emissoras de rádio. Favorável à continuidade das relações com Portugal e a uma autonomia relativa do Timor no "interior de um Estado português multicontinental", passou a defender um processo gradual de independência a partir do enfraquecimento da ideia de uma federação de países de língua portuguesa e por este motivo, por um breve período, manteve uma coalização com a FRETILIN.
       A  APODETI pregava a união do país com a Indonésia. Fundamentava sua posição na convicção de que o país não seria economicamente viável, além de insuficientemente desenvolvido no aspecto político. Salientava que o patrimônio étnico e cultural comum às duas metades da ilha deveria levar à unificação e à integração do Timor-Leste com a vizinha república da Indonésia. Financiada pela Indonésia, não contava com respaldo da população, no máximo, 300  apoiadores. Era o menos influente dos três partidos timorenses e em razão de seu perfil, foi prontamente hostilizada pela FRETILIN, que a via como uma organização ilegal.
       A partir da Revolução dos Cravos em Portugal (1974), ocorreu a desorganização do império colonial português; FRETILIN, APODETI e  UDT constituíram as três principais posições políticas em disputa no Timor-Leste. As demais agremiações políticas, como o KOTA  (Klibur Oan Timur Aswain - partido monarquista que defendia a manutenção dos liurais como dirigentes tradicionais) e o Partido Trabalhista, não constituíam qualquer força política real, pois não reuniam mais que um punhado de militantes. 


fonte: http://amrtimor.gov.org/docs



fonte: http://amrtimor.gov.org/docs

A economia

       Ocupando uma posição relativamente secundária na economia de sua Metrópole (Portugal) totalmente voltada para o tráfico de escravos, agricultura de plantation e comércio de especiarias, estas atividades não eram praticadas no Timor, porém, a grande riqueza era a preciosa madeira de sândalo, árvore de essências aromáticas e medicinais; florestas inteiras foram arrasadas já nos primeiros anos de colonização. Com relação ao café, a demanda internacional favoreceu a expansão de seu cultivo a partir do século XIX. De excelente qualidade, o café tornou-se o principal produto de exportação do Timor (80% do total). Ainda que fossem conhecidas ou parcialmente exploradas  jazidas de cobre, manganês, petróleo e gás natural, o país permaneceu essencialmente agrícola, com o milho e o arroz como produtos principais. A pesca até hoje é explorada artesanalmente pela população costeira. Devido ao isolamento, contrariamente às demais colônias portuguesas, seu comércio foi direcionado mais aos países da região do que para a Metrópole. O nível  de vida do Timor permaneceu muito baixo: segundo a ONU, a renda per capita em 1975 era de US$ 40. A partir da ocupação indonésia, a estrutura econômica da ilha foi severamente atingida e subvertida, provocando distúrbios de toda ordem. Os produtores de café passaram a ser remunerados muito abaixo das cotações internacionais devido ao monopólio exercido por intermediários locais em cumplicidade com militares de alta patente. Danos provocados pela guerra e a desarticulação de redes tradicionais de produção de alimentos estão diretamente relacionados com os incontroláveis surtos de epidemia e fome que assolaram a população.
       Por sua vez, o petróleo e o gás natural levaram o Timor a um complexo jogo geopolítico internacional: com estimativas variando de 1 a 6 bilhões de barris (The Age em 9/9/1989 e Financial Times em 14/12/1989) sem mencionar entre 3 a 17 trilhões de m³ de gás natural; estas imensas reservas concentradas na plataforma continental da ilha colocam o Timor português entre as mais ricas jazidas petrolíferas do mundo. Não seria incorreto afirmar que a invasão indonésia foi também motivada pela cobiça dessas jazidas.
       Em 1989, em flagrante violação das normas e do direito internacional, a Indonésia e a Austrália acordaram um  tratado conjunto de exploração de petróleo no mar territorial de Timor - o chamado "Timor Gap" (em inglês abertura; é usada para definir o braço de mar entre Timor-Leste e Austrália, cuja fronteira marítima ainda não havia sido traçada. No início da década de 1970, negociações entre Portugal e Austrália a respeito desse assunto não foram concretizadas, o que retira qualquer legitimidade ao acordo de exploração petrolífera firmado entre a Indonésia e a Austrália). O governo português, formalmente responsável pela administração do território, levou a questão à Corte Internacional de Justiça de Haia, retirando  seu embaixador em Camberra - Austrália. Posteriormente, os dois países romperam relações diplomáticas.

Portugal, Indonésia e Timor-Leste

       Com a vitória da Revolução dos Cravos e do MFA (Movimento das Forças Armadas) em Portugal, em abril de 1974 foi nomeado um novo governador para o Timor-Leste, o coronel Mário Lemos Pires, incumbido de estabelecer as negociações sobre o futuro político do território. As negociações foram orientadas para a formação de um conselho que preparasse a transição para a independência; o novo governo português havia abandonado a pretensão de manter Portugal à frente de um grande império. O exemplo foi o esforço do governo anterior para conter a guerrilha africana: além da sangria em recursos humanos, destinava 42% dos recursos do país para gastos militares em 1974, uma porcentagem excessiva para um país considerado o mais atrasado da Europa Ocidental. 
       Na medida em que a manutenção da submissão das colônias foi o pivô da Revolução dos Cravos e que as mudanças em Portugal envolviam a resolução imediata do problema da rebeldia das populações colonizadas, a liquidação do  império colonial estava na ordem do dia. Por isso, contatos com os representantes dos movimentos de libertação para negociar suas autonomias, foram imediatamente iniciados. No entanto, a independência do Timor-Leste não só não ocorreu, como foi ocupado pela Indonésia. Ao contrário da Guiné-Bissau, Cabo Verde, Angola, Moçambique e São Tomé e Príncipe, colônias portuguesas na África, o Timor constituiu a única ex-possessão portuguesa que não alcançou a independência sem passar por uma guerra intensa. Esse trágico desfecho é o resultado de alguns fatores, que desde o início colaboraram contra a independência. Dentre eles:
        a) os conflitos ocorreram em plena Guerra Fria; o ano de 1975 foi marcante no confronto entre o EUA e a ex-URSS: além da derrota dos EUA no Vietnã e do desmantelamento do império colonial português, as tentativas de desestabilização dos recém independentes governos de Angola e Moçambique pela África do Sul motivaram o envio de soldados e assessores militares cubanos e soviéticos para o continente africano. Independente  dos projetos em disputa no Timor-Leste ou das aspirações dos países envolvidos com a questão (Portugal, Indonésia e Austrália), a política externa dos EUA apontava claramente contra o surgimento de um novo foco de tensões na região. Um regime não diretamente alinhado com o Ocidente não poderia contar com qualquer ajuda de Washington. A indústria petrolífera alarmada com as iniciativas anteriores de Sukarno (governou a Indonésia de 1945 a 1967; seu governo ambíguo se caraterizou pelo regime da Democracia Guiada, no qual não havia alternância de poder. Seus ideais políticos misturavam islamismo, nacionalismo e marxismo; buscou fortalecer o Movimento Não-Alinhado ao mesmo tempo que recebia ajuda financeira dos EUA e da ex-URSS; sua política externa foi conduzida com uma aproximação à China; em 1956 promoveu a extinção de todos os partidos políticos, criando somente 3 anos depois, a chamada Democracia Dirigida; enfrentou seguidas rebeliões separatistas e anti-comunistas no país - uma delas, em 1958, financiada pela CIA; seu governo adotou medidas discriminatórias contra grupos étnicos de origem chinesa; exilou opositores e, em 1960, dissolveu o Congresso instituindo um novo Parlamento com membros nomeados pelo governo, no mesmo ano recebeu o Prêmio Lenin da Paz e em 1963 foi nomeado presidente vitalício), também não desejava nenhuma outra aventura nacionalista no Sudeste Asiático. A intervenção do governo indonésio não pode ser compreendida dissociada de um "sinal verde" emitido pela Casa Branca. Coerentemente, o Timor-Leste foi invadido poucas horas após a visita do presidente norte-americano Gerald Ford à Jacarta na qual seguramente aprovou os planos de invasão previamente apresentados por Suharto (o general Hadji Mohamed Suharto  foi presidente da Indonésia entre 1967 e 1998 - veja a retrospectiva do governo de Suharto disponível em http://www.dailymotion.com/video/xargw1_suharto-soeharto-of-indonesia-retro_news ).
Assista ao vídeo disponível em http://www.youtube.com/watch?v=2y7eESSM3Qg e observe a influência e desenvoltura de Sukarno no meio político internacional.
       b) devido ao intenso desejo de anexar o Timor-Leste, Jacarta desestabilizou sistematicamente o processo de descolonização. Devido às atitudes do governo indonésio, os dilemas internos do Timor  se aprofundaram, obedecendo a um jogo calculado por Jacarta para tornar irreversível a anexação do país. Em dezembro de 1974, Adam Malik, chanceler da Indonésia, alertava que havia somente duas soluções possíveis para a "questão do Timor": a união com a Indonésia ou a continuidade da administração portuguesa. Uma terceira possibilidade, a independência, estava descartada e vista como irreal.
       Ao longo dos anos 1974-75, o governo indonésio adotou uma estratégia que combinava pressões e ameaças, pretendendo enfraquecer a resistência timorense e provocar o recuo do governo português. Manipulando a situação, a Indonésia passou a defender a incorporação de Timor a pretexto da luta antimperialista. Ao mesmo tempo, desencadeou uma ofensiva nos meios de comunicação alertando para perseguições e ameaças contrárias ao timorenses favoráveis à integração. Enfatizava a presença de grupos esquerdistas em Timor, que dirigidos pela FRETILIN, estariam prestes a tomar o poder. A guerra de nervos estava instaurada e se caracterizava por atitudes hostis e agressivas. No fim de março de 1975, as forças de segurança da Indonésia anunciavam que o Timor Ocidental - o lado indonésio da ilha - estava interditado aos jornalistas do país ou do exterior. 
       c) frente às sucessivas provocações da Indonésia, Portugal reagiu timidamente, arriscando a integridade territorial do Timor-Leste. O  governo português também falhou na condução das negociações em Dili, inviabilizando a formação de um conselho proposto pelo coronel Mário Lemos Pires, onde os três partidos políticos existentes no Timor negociariam uma solução pacífica.
       d) entre os timorenses, além do antagonismo entre APODETI, FRETILIN e de grupos sociais representados na UDT viam esta última  como uma ameaça aos seus interesses . Embora a FRETILIN, como já foi assinalado, tivesse uma plataforma mais reformista que revolucionária, a organização foi conduzida gradativamente para posições cada vez mais esquerdistas. Não podemos esquecer o clima gerado pela Guerra Fria nos anos 1970 que contribuía muitas vezes,  para uma polarização ideológica que dependia, na maioria da vezes, da moderação das forças políticas em disputa. Naquela região o confronto Leste-Oeste materializou-se na Guerra do Vietnã e mobilizou amplas parcelas da opinião pública internacional no posicionamento frente às forças em luta. Esta guerra contribuiu para a cristalização da "política do dominó": a perda de um país para as mãos dos comunistas levaria à "comunização" dos vizinhos. Em 1975 a perda do Vietnã, Laos e Camboja causou grande aflição ao Ocidente.
       e) neste contexto, a aliança necessária e fundamental entre os nacionalistas e a FRETILIN não conseguiu se firmar. Uma coalização estabelecida entre dois partidos (20/01/1975) desagregou-se. O abandono da aliança pela UDT (27/05/1975) ocorreu no momento em que a Indonésia já marcara qualquer posição contrária a todo e qualquer entendimento envolvendo a FRETILIN, convencendo vários setores da UDT a perceberem na Indonésia a única alternativa segura para governar o Timor e a acusar as autoridades portuguesas de favorecerem a FRETILIN. A realização da Conferência de Macau (julho de 1975), promovida por Portugal para novamente reatar as negociações pela independência, acentuou essa cisão. Boicotada pela FRETILIN devido à presença da APODETI, a conferência resultou na proposta de manter a soberania portuguesa até outubro de 1978, deixando aberta a questão da independência. Esta proposta somada às provocações incessantes da Indonésia e rumores que a UDT já contava com apoio de Jacarta, levaram a FRETILIN a insistir na tese da independência imediata e total para o Timor-Leste, negando-se a aceitar qualquer prorrogação no mandato colonial de Portugal.

O golpe de Estado e a guerra civil

       Em agosto de 1975 a UDT iniciou um previsível golpe de Estado. Militantes tomaram pontos chaves em Díli, incluindo a estação de rádio e o aeroporto. Enviou um ultimato às autoridades portuguesas reivindicando imediata independência e solicitando o encarceramento dos chefes da FRETILIN, dentre eles José Ramos-Horta (atual presidente eleito de Timor-Leste). Em verdade, este golpe voltava-se contra a FRETILIN e não à favor da independência. A administração portuguesa assistiu impassível aos acontecimentos, tornando inevitável uma guerra civil, opondo UDT e FRETILIN. Os combates provocaram centenas de mortes e se estenderam por 30 dias; a FRETILIN controlou mais da metade do país. Derrotados, a UDT refugiou-se na Indonésia, juntou-se ao KOTA, ao Partido Trabalhista e a APODETI num movimento "anti comunista", expressando ao mesmo tempo, sua aprovação à integração do Timor à Indonésia.

Independência e resistência à ocupação

       Após o golpe da UDT e a vitoriosa e inesperada reação da FRETILIN, a autoridade colonial deixou um vácuo político e em seu lugar, a FRETILIN passou definitivamente a administrar o país, firmando-se como única força política incondicionalmente defensora da independência de Timor-Leste. Apoiada pela população a proclamação da independência unilateral foi anunciada em em 28 de novembro de 1975. Porém, em 7 de dezembro, teve início a Operação Komodo: invasão do Timor, preparada há meses pela Indonésia. Com o objetivo de alcançar uma vitória rápida através da rendição de todo o povo maubere, o exército indonésio concentrou suas energias em práticas que visavam a generalização do medo e do  terror: massacres de civis, violações e repressão indiscriminada. 
       Estes atos de agressão por parte da Indonésia, motivaram debates na Assembléia Geral da ONU. Em 22 de dezembro, oito dias após a invasão do território, o Conselho de Segurança das Nações Unidas exigiu, por unanimidade que o governo indonésio retirasse seu exército de Timor. A resolução exigia o respeito à integridade do território, assim como, o direito inalienável de seu povo à autodeterminação. 
       Desafiando a resolução da ONU, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Indonésia negou a existência de tropas no Timor-Leste, afirmando que as forças anti-FRETILIN eram apoiadas por voluntários. Ignorando as manifestações internacionais de repúdio, continuou a escalada de agressão.
       Esta conduta foi totalmente desabonadora para a Indonésia. Mesmo com a ruptura das relações diplomáticas entre Jacarta e Lisboa e tendo o Conselho de Segurança da ONU solicitado a retirada  das tropas para acelerar o processo de autodeterminação timorense, a Indonésia buscando legitimar simbolicamente o seu domínio, organizou o Conselho Representativo de Povo de Timor, que "aprovou" (?) petição favorável a sua integração à Indonésia (julho de 1976) rebatizando-o como Loro Sae e transformando-o na sua 27ª província. Este ato não foi reconhecido pelo Comitê de Descolonização da ONU para o qual Portugal continuava sendo a potência dominadora do Timor.
       Não conseguindo a submissão do povo maubere, a Indonésia prosseguiu com a repressão, desencadeando um massacre sem precedentes, o que levou ao aumento da resistência timorense. Tal situação durou até meados de 1978, quando o alto comando indonésio buscou o enfrentamento direto com as Forças Armadas de Libertação Nacional do Timor-Leste (Falintil), braço armado da FRETILIN. Os poderosos meios bélicos utilizados pelos invasores, confrontados com as forças mal armadas dos timorenses em uma guerra clássica de posições, levou rapidamente ao esgotamento o esquema de resistência maubere. A partir de 1978, a própria Fretilin aconselhou a população a render-se, pois uma a uma das bases de resistência foram abatidas pelos indonésios. O colapso psicológico e ideológico  de algumas lideranças timorenses fizeram  o sentido da luta se perder. Entre 1979 e 1981, a Indonésia encaminhou uma "operação limpeza" para aniquilar os guerrilheiros remanescentes, assim como, foram criados batalhões com timorenses colaboracionistas e "esquadrões da morte", com a finalidade exclusiva de eliminar qualquer traço da atividade da Fretilin.
       O esquema militar indonésio incluiu arregimentar civis à força para operações de contrainsurgência. Segundo denúncia da Anistia Internacional e de diversas organizações religiosas do Timor e da Indonésia, na Operação Segurança (Operasi Keamanan), desenvolvida de julho a setembro de 1981, 40 mil civis do sexo masculino foram utilizados como escudo humano em operações de busca e destruição dos combatentes mauberes. Para impedir o contato da população com a resistência, os invasores organizaram imensos deslocamentos forçados da população civil, embora os timorenses vivessem espalhados, os solos mais férteis se localizavam nas montanhas e os indonésios organizaram "aldeias de povoamento", uma forma amena de classificar campos de concentração. Em Ataúro, criaram campos de concentração para onde eram enviados os familiares dos milicianos resistentes.

Crimes contra os timorenses

        A Indonésia tem sido responsabilizada até hoje por aplicar uma política deliberada de genocídio da população civil. Contestando o governo indonésio, que se recusa a admitir os desrespeitos aos direitos humanos no território, a Declaração da Anistia Internacional sobre o Timor-Leste ao Comitê de Descolonização das Nações Unidas denunciou com farta documentação os atos criminosos por parte das autoridades indonésias, dentre elas:
       - fuzilamento de civis não combatentes como repressão às ações das guerrilhas;
       - prática de torturas física e psicológica em prisioneiros e criação de campos de concentração;
       - interrogatório e tratamento perverso dado aos familiares ou suspeitos de terem parentesco com membros da resistência;
       - desaparecimentos, decapitações públicas, execuções extra-judiciais e sequestros em larga escala (desde o primeiro dia de invasão);
       - esterilização forçada e em massa forçada das mulheres com o objetivo de alterar a composição étnica do Timor;
       - utilização de civis como barreira humana em operações militares, como na já citada Operasi Keamanan;
       - violações, abusos sexuais e sevícias de toda ordem, dentre elas a incineração pública de civis.
        Abaixo, uma pequena amostra da truculência do governo indonésio.
        Mais documentos disponíveis em: http://timor-leste.gov.tl

fonte: http://www.amrtimor.gov/docs
Mapa de Timor-Leste com alguns pormenores sobre a invasão indonésia em 07/12/1975








                       



fonte: idem
Invasão indonésia. Soldados apoderando-se da bandeira portuguesa. Data: 1975












fonte: http://www.amrtimor.gov/docs
Operações militares indonésias durante a invasão de Timor-Leste em 07 de dezembro de 1975







     


                                                           fonte: idem
Invasão de Timor-Leste em 07/12/1975















fonte: idem
Retrato de crianças subnutridas em consequência das sucessivas operações militares indonésias e perseguição nos anos de 1977 a 1979















fonte: idem
Repressão de forças indonésias aos manifestantes timorenses quando da visita do papa João Paulo II. 1989
fonte: idem.
Mulher chorando junto ao corpo fuzilado por militares indonésios, Same, Timor-Leste. 1989.




fonte: idem
Manifestação nas ruas de Dili aquando da visita ao território do Embaixador dos Estados Unidos da América em Jakarta. Janeiro de 1990
















fonte: idem
Retrato de militar indonésio pousando ao lado duma cabeça dum guerrilheiro degolado. 1990










                                                         fonte: idem
Corpos de timorenses, fuzilados pelos militares indonésios em Timor-Leste, suspeitos de pertencerem à rede clandestina ou de apoiarem a Resistência Armada nas montanhas de Timor-Leste em 1991.











fonte: idem
Retrato de um jovem amarrado e torturado pelos militares indonésios No papel que se vê entre as mãos lê-se em língua indonésia: " Minta Tolon Sama Xanana mu." O que significa: Pede ajuda ao teu Xanana. Em Timor-Leste. Março de 1992











fonte: idem
Jovem timorense numa prisão indonésia em Díli, com sinais de tortura dos militares indonésios em consequência de uma manifestação no Hotel Mahkota, Dili. 23 de Março de 1997

Estratégias de dominação

       As estratégias de dominação da Indonésia para acabar com a resistência maubere, apelaram para expedientes colonialistas clássicos como combinar deslocamentos e deportações em massa da população, introduzir a recolonização com etnias estranhas ao seu território, por exemplo, a partir de 1984 milhares de javaneses foram introduzidos no Timor, transmigração justificada com argumentos à respeito da baixa capacidade intelectual e da preguiça dos timorenses.
       O invasor procurou também descaracterizar culturalmente o país impondo a sua interpretação sobre o passado da ilha. Insistia, por exemplo, nas supostas afinidades histórico-culturais que tornariam os mauberes integrantes de uma grande família indonesiana. As tentativas de destruir o legado cultural timorense passaram também pela questão da língua: é fato que o tétum passou a ser utilizado pela emissora oficial de rádio e eventualmente utilizado para contato com os timorenses mas, trata-se de inserir a essência indonésia através da língua, uma forma sofisticada de colonizar mentalmente os mauberes utilizando seu próprio idioma. Quanto ao idioma português, este foi proibido pela administração indonésia. Para Jacarta, o português representava o idioma do colonialismo e deveria ser esquecido, dando lugar a uma autêntica língua nacional.

Reorganização da resistência

       Parecia mesmo que a resistência timorense estava aniquilada, era o que pensava o regime indonésio. No entanto, sob o comando de Kay Rala Xanana Gusmão, um dos sobreviventes do Comando Central da Fretilin e atual primeiro-ministro de Timor-Leste, entre 1 e 8 de março de 1981, reuniu-se uma Conferência Nacional da Resistência e a luta foi retomada. A Fretilin passou a usar as táticas de guerrilha, reiniciou as operações militares, aumentou sua importância e o número de membros; várias vilas foram ocupadas e importantes combates vencidos. Mesmo com imensas vantagens, as tropas indonésias foram seguidamente abatidas.
       No início de março de 1983, os indonésios e a seu pedido, devido à forte pressão da comunidade internacional, as conversações de paz entre o chefe das Forças Armadas da Indonésia em Timor, coronel Purwanto e o líder da resistência, Xanana Gusmão foram iniciadas na zona controlada pela Fretilin . Em 23 de março foi assinado um cessar fogo, ao mesmo tempo em que foi proposto em plano de paz pela Fretilin. No entanto, esta aparente abertura dos indonésios ao diálogo, foi mais tarde confirmada uma manobra para vencer a resistência timorense. Durante a trégua acertada, os generais indonésios procuraram conhecer o potencial da resistência e corromper seus líderes. Em agosto do mesmo ano, os indonésios desencadearam uma vasta operação militar utilizando sofisticados equipamentos militares e muitos soldados com a finalidade de "varrer" os rebeldes. O fiasco militar indonésio ocorreu pelo simples fato de que a guerrilha timorense, longe de ser aniquilada, controlava áreas de forma estável e nelas, os indonésios não ousavam penetrar. Constantemente desmoralizados no confronto militar, os indonésios mantiveram entretanto, a prática de atos que a imprensa mundial já havia destacado como sua "especialidade" : massacre de populações indefesas, prisões indiscriminadas, desaparecimentos, torturas, repressão. Estas práticas contínuas dos invasores estrangeiros e suas contantes negativas em reconhecer seus crimes, determinou uma gradativa irrupção de um importante interlocutor na defesa do povo timorense e um símbolo de sua identidade nacional: a Igreja Católica do Timor.

A Igreja timorense frente à ocupação

       A partir de 1978 com o pontificado de João Paulo II, a Igreja Católica passou a adotar um novo direcionamento quanto às questões políticas e sociais. Propostas como o ecumenismo e a Teologia da Libertação, que continham avanços doutrinários na direção da emancipação de setores populares, deixaram de possuir qualquer respaldo da Santa Sé. Uma igreja com uma postura mais pastoral e menos política passou a ser cobrada em documentos e nos posicionamentos do Vaticano, a começar pelo próprio papa. Mas no Timor Leste, a Igreja ante as atrocidades cometidas pelos invasores e a possibilidade de anexação da ilha, passou a manifestar-se abertamente, apoiando os protestos da população maubere. Este vínculo foi favorecido com a indicação do bispo Carlos Felipe Ximenes Belo (laureado com o Prêmio Nobel da Paz em 1996) como administrador apostólico de Díli, que destacou-se como um grande defensor dos direitos humanos e um dos símbolos vivos da resistência timorense. Porém, esta proximidade da Igreja local com o povo maubere ocasionou conflitos com a cúpula da Igreja no Vaticano, que exaltava "uma sociedade  unificada e interdependente" que teria sido construída na Indonésia: isto significa que para o Vaticano, manter boas relações com um país que reunia a maior concentração muçulmana do mundo, tem se mostrado tolerante com as outras religiões (budista, hinduísta e cristã) e, de resto, queria ver proibido tanto o ateísmo, quanto o fundamentalismo islâmico. 
       Colocada em situação de confronto direto com o Vaticano e também com os católicos indonésios - em sua maioria favoráveis à anexação - a Igreja timorense  manteve seu compromisso de forma explícita com o povo maubere e na defesa de seus direitos.
       Durante a visita papal ao Timor Leste em 1989, João Paulo II, embora tenha apelado para o respeito aos direitos humanos, concluiu sua visita sem beijar seu solo, num gesto que foi interpretado por observadores internacionais como uma clara demonstração da Santa Sé no reconhecimento de fato, da anexação. 

A "Algema de Lágrimas"

       Com este título, durante a visita papal a Díli e aproveitando a presença de estrangeiros e da imprensa internacional, a resistência maubere conseguiu passar para o exterior documentos no qual Xanana Gusmão fez a síntese do percurso do nacionalismo maubere até 1989. Neste documento, é reafirmado o compromisso de alcançar a paz e a independência, para colocar fim a quase 20 anos de sofrimentos e sacrifícios impostos ao povo maubere. Exatamente por esta razão, o governo indonésio assumiu seu caráter genocida. O poder ilegal indonésio continuou a prender e amedrontar a população. Por isso a "algema de lágrimas" foi reforçada com mais terror, mais repressão e mais truculência.
       Em 12/11/1991, autoridades indonésias comprovaram a disposição em manter sua conduta no Timor: uma procissão pacífica dirigia-se ao cemitério de Santa Cruz, em Díli, após a missa de 7º dia de um timorense morto no Largo da Igreja de Motael, foi atacada por tropas indonésias que, determinadas em reprimir a procissão, atiraram deliberadamente sobre a multidão, matando mais de 200 pessoas.
       Assista em: 
http://www.youtube.com/watch?v=ElWMSN5hIK0 vídeo sobre o massacre em Díli em 12/11/1991  e a investigação posterior, feita pelo jornalista e cineasta britânico Max Stahl


http://www.youtube.com/user/slvdrbarros04#p/u/27/hl9EgC3F5NE assista o vídeo sobre a violência e a redenção no Timor, com música de Shakira

Prisão de Xanana Gusmão e suas repercussões

       Passado um pouco mais de um ano do massacre de Santa Cruz, em 19 de novembro de 1992, Xanana Gusmão, durante anos comandante da resistência maubere, foi preso em Díli. No Ocidente, sua prisão teve imensa repercussão na imprensa, o que não ocorreu no Brasil. Aqui, a imprensa ignorou este fato.
      A Indonésia manipulou o fato de ter aprisionado o homem que mais simbolizava a resistência nacional maubere. O próprio Xanana foi exibido na televisão numa série de entrevistas em que teria renunciado à luta pela independência, afirmando que o Timor Leste era parte da Indonésia. Essa aparente mudança de posição foi interpretada como resultado de coerção e tortura o que em nada alterou a disposição dos timorenses em continuar a resistência ao invasor estrangeiro.
       O governo indonésio agregava à declaração de Xanana, oferta de anistia aos guerrilheiros que depusessem as armas. Tendo anunciado a rendição de mil guerrilheiros - número desmentido por diversas fontes - a Indonésia não conseguiu explicar como a resistência armada continuava na ilha e o porque da continuidade da política de terror.
       Veja os documentos abaixo:

fonte: http:www.amrtimor.org/docs
Jornal A Capital 1992


fonte: http://wwww.amrtimor.org/docs
Jornal Pac News, nov/1992



fonte: http://www.amrtimor/docs
Transcrição de entrevista de José Ramos Horta à BBC sobre a prisão de Xanana Gusmão em nov/1992


fonte: http://www.amrtimor/docs
Documento da Anistia Internacional denunciando a prisão de Xanana Gusmão, publicado em nov/1992

fonte: http://amrtimor/docs
Carta do Parlamento da Austrália - senador Gordon D. McIntosh ao Secretário Geral das Nações Unidas - Javier Perez de Cuellar em dezembro de 1993,  sobre as condições no Timor Leste e a prisão de Xanana Gusmão